1 de Agosto 2024

Mais tempo para saborear a vida

Chama-se ImproVITA o conservante alimentar natural desenvolvido para aumentar o prazo de validade dos produtos IV gama (fruta cortada embalada) e sumos naturais. O resultado é um tempo de prateleira até cinco vezes superior em comparação com a solução mais comum existente no mercado – o ácido ascórbico. Argumentos determinantes para a conquista do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola, na categoria “Segurança Alimentar e Nutricional”.

O ImproVITA tira partido dos efeitos dos sistemas eutécticos (DES) para prolongar significativamente a acção dos antioxidantes. É composto por moléculas de origem natural, tornando-o food-grade, vegan e sustentável. Ao posicionar-se como substituto dos conservantes químicos, contribui para que os consumidores tenham acesso a alimentos mais seguros e nutritivos durante mais tempo.

“A indústria, principalmente a de processamento de alimentos está, cada vez mais, sobre uma enorme pressão para aumentar a vida útil dos produtos, diminuindo assim os resíduos gerados todos os anos. Ao mesmo tempo, o consumidor está cada vez mais consciente das escolhas que faz, preferindo produtos naturais, sustentáveis e que contribuam para um futuro melhor”, faz notar Alexandre Paiva. Para o investigador e co-fundador da empresa DES Solutio, o maior desafio da indústria é, definitivamente, encontrar um preservante alimentar que cumpra todos estes requisitos. Ora, ele aí está, o ImproVITA, apresentando-se desde já como “solução disruptiva e de eficácia muito superior face às soluções actualmente existentes no mercado”.

A equipa ImproVITA demonstrou que a utilização desta tecnologia aumenta a actividade antioxidante até cinco vezes mais e, nota relevante, previne a oxidação da fruta até 48 horas quando exposta ao ar, ao contrário do que acontece com os métodos convencionais, cujo efeito preventivo não vai além de algumas horas... Acresce, no caso da fruta cortada e embalada, que o prazo de validade pode ser estendido para – o que é a todos os títulos notável – mais do dobro.

Estes valores têm benefícios enormes – e em vários planos. Vejamos: por um lado, a indústria de IV gama passa a ter condições de exportar os seus produtos para mais longe e com mais tempo de transporte, o que lhe abre outras latitudes, outros mercados. Já do lado do consumidor final, é manifesta a vantagem de aceder a um produto fresco com validade mais dilatada, melhorando a sua experiência de consumo e que, no quadro de boas práticas de sustentabilidade, é susceptível de reduzir o desperdício alimentar. E esse é também um dos desafios do sector da grande distribuição, cada vez mais disponível para cortar e embalar a fruta que, por uma ou outra razão, não estará própria para ser vendida inteira ao público, mas que se apresenta em perfeitas condições para consumo.


Com a sua ciência e a sua história

A história deste projecto começa, em bom rigor, há cerca de dez anos, quando os investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCT), Alexandre Paiva, Rita Duarte e Rita Craveiro, decidem começar a trabalhar numa nova classe de solventes até então ainda pouco explorados.

“O que torna tão especiais os solventes eutécticos (DES)”, confessam os investigadores, é o facto de serem “apenas misturas de duas espécies sólidas que, uma vez misturadas, formam um novo composto líquido com propriedades diferentes”. Cabe acrescentar que, se as espécies iniciais forem de origem natural, “estes solventes são completamente sustentáveis, naturais e biocompatíveis”.

No desfiar da evolução desta história, mais tarde, como parte do trabalho de duas alunas de doutoramento, Liane Meneses e Marta Marques, verificou-se que os referidos solventes tinham outras propriedades que os tornavam únicos. Desde logo o facto de “retardarem a oxidação, um dos fenómenos responsáveis pela cor escura com que a fruta descascada fica quando exposta ao ar”.

Tendo noção do enorme potencial destes solventes eutécticos, os investigadores Alexandre Paiva e Rita Duarte decidem, então, fundar a empresa DES Solutio, uma spin-off da Universidade Nova de Lisboa. O propósito foi dar asas a um projecto comercialmente competitivo, tendo por suporte todos os argumentos já descritos.

Entretanto, a bela aventura tem vindo a revelar-se frutuosa. O ImproVITA está já a ser validado em ambiente industrial com os seus diferentes parceiros, tanto para adiar a oxidação da fruta como para evitar a contaminação microbiana (bactérias e fungos), responsável por grande desperdício alimentar e com maior impacto, designadamente, nos frutos vermelhos.

Todas as notas, todos os caminhos do ImproVITA convergem no sentido do reconhecimento de uma ideia brilhante – e consequente. Com a conquista do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola, “vemos ainda mais valorizado o nosso esforço e a nossa contribuição para a indústria alimentar, e reforçada a importância da inovação no desenvolvimento de produtos que promovam o bem-estar dos consumidores e a preservação ambiental”, sublinha Alexandre Paiva.

O futuro do Planeta muito agradece.