1 de Agosto 2024

Resíduos agrícolas a gerar vida

“Transformar resíduos em recursos valiosos”. Esta é ideia-chave que esteve na origem, em 2023, da criação da BioReboot, start-up portuguesa com sede na Região Autónoma da Madeira. O seu projecto BioGrowth Pods – traduzido em sementeiras biodegradáveis que se apresentam como alternativa sustentável às bandejas e sacos de plástico descartáveis utilizados na agricultura – resulta numa bela surpresa que pisca o olho ao futuro do Planeta. Por aqui se desenha o vencedor do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola, na categoria “Valorização dos recursos endógenos”.

“Estando numa região ultraperiférica com características particulares e desafiadoras, temos sempre presente a necessidade de equilíbrio entre a extracção de recursos naturais e o tratamento e descarte adequado dos resíduos produzidos. Com base na experiência da equipa, decidimos apostar na agricultura, um sector de grande relevância económica para o País, ainda muito dependente do uso intensivo de plásticos descartáveis e carente de soluções alinhadas com os objectivos das estratégias de sustentabilidade da Comissão Europeia, como o Green Deal e o Farm to Fork”, explica Thiago Gomes, CEO da BioReboot.

Fazendo jus à vocação da empresa, o projecto que materializa o conceito das BioGrowth Pods propõe-se fechar o ciclo de nutrientes localmente, ao transformar resíduos agrícolas em recursos valiosos. Assim, é possível reduzir a utilização de fertilizantes sintéticos e assegurar a protecção dos solos agrícolas, permitindo a captura de carbono desses resíduos que, de outro modo, seriam descartados ou queimados. Thiago Gomes esclarece que esta “é uma tecnologia versátil e escalável, visto que o compósito verde a partir do qual produzimos as BioGrowth Pods tem mostrado potencial de ser utilizado em outros sectores além da agricultura, designadamente na construção, no design de interiores e, até, na indústria automóvel”.

Acresce que a experiência da Madeira com as BioGrowth Pods tem tudo para ser replicada noutras regiões ultraperiféricas e insulares. Desde logo em toda a região da Macaronésia – que, além da Madeira, integra os Açores, as Canárias e Cabo Verde –, bem como em áreas rurais do Continente português que enfrentam desafios semelhantes.

No topo dos argumentos de diferenciação do projecto, o CEO da BioReboot faz questão de acrescentar que, ao promoverem a produção local, as BioGrowth Pods podem ajudar a reduzir a dependência das importações no sector agrícola.

Entretanto, o novo conceito ganha relevância e gera impacto em várias latitudes e diferentes públicos. As BioGrowth Pods já estão a servir como modelo prático para educação ambiental, envolvendo escolas, a Universidade da Madeira e stakeholders regionais e nacionais, em programas de conscientização sobre economia circular e agricultura sustentável.

A proximidade com o meio académico e parceiros como o centro ISOPlexis-UMa e a Secretaria Regional de Agricultura, Pescas e Ambiente, “têm sido primordiais para a credibilização do projecto e acesso a produtores e stakeholders na esfera do sector agrícola”. Thiago Gomes conta que desafios como a orografia, o transporte ou o acesso aos resíduos só serão superados se as tecnologias evoluírem conforme as necessidades regionais. No seu entendimento, são justamente projectos como o da BioGrowth Pods que “chamam a atenção” para essas mesmas necessidades.

“Acreditamos ser possível fechar o ciclo de resíduos na Madeira através de um esforço conjunto entre os sectores público e privado. Anualmente, a Região produz cerca de 30 mil toneladas desta variedade de resíduos que estamos a utilizar no compósito verde das BioGrowth Pods, o que é mais do que suficiente para os testes e validações que pretendemos fazer. Tendo o modelo pronto e validado, podemos escalar para qualquer outra região com os mesmos tipos de resíduos e desafios”, antecipa o CEO da BioReboot.


Saudável processo de evolução

A trajectória da BioReboot tem percorrido diferentes programas de aceleração de ideias (StartNOW 2020, HiTech 2022, EIC JUMPSTARTER 2022) e competições de empreendedorismo (ClimateLaunchpad 2021, Born from Knowledge Ideas 2021, Poliempreende 2023), caminho que se tem revelado decisivo para o desenvolvimento e aprimoramento do conceito das BioGrowth Pods. “O acesso ao vasto networking inerente a estas iniciativas e a introdução de desafios, questionamentos, novos pontos de vista e alguns ‘nãos’, têm feito parte do processo de evolução saudável do projecto”, frisa Thiago Gomes.

Projectos como o BioGrowth Pods alinham-se com os objectivos nacionais de sustentabilidade e economia circular defendidos pela Lei de Bases do Clima e ajudam Portugal a cumprir os seus compromissos com o European Green Deal e outras iniciativas de sustentabilidade da União Europeia.

Tudo somado, aqui temos mais uma start-up portuguesa com argumentos para seduzir o Mundo. Por outras palavras, mais um passo afirmativo de Portugal na vanguarda da inovação em bioeconomia e agricultura sustentável, susceptível de atrair investimentos e parcerias internacionais. Algo que importa reconhecer e premiar – e assim acontece: depois do Novo Verde Packaging Enterprise Award, veio o Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola. Um prémio que “credibiliza ainda mais o nosso trabalho, principalmente por termos a validação de uma entidade com longa história de proximidade e uma vasta rede de alcance precisamente no sector para o qual as BioGrowth Pods foram desenvolvidas”.

Felizmente, o futuro pode ser ‘Bio’.