1 de Julho 2021
Entre o sol e o luar há energia para armazenar
O Director-geral da dstsolar não tem dúvida de que “o futuro vai ser feito na transição energética e digital”. Desde o início, tendo o sector industrial como referência-chave na carteira de Clientes da empresa, o alargamento ao universo residencial aconteceu mais recentemente, há cerca de dois anos, tendo, inclusive, sido criado um departamento exclusivo envolvendo as áreas de vendas e de produção. O também engenheiro do Ambiente, Raul Cunha, justifica o desenho de soluções ajustadas a este mercado com o facto de o custo da energia residencial ser elevado e a capacidade negocial estar a dar os primeiros passos.
Raul Cunha destaca o “grande salto” dado pelo sector fotovoltaico, à escala global, não só na vertente tecnológica, mas, sobretudo, ao nível da capacidade instalada e da consequente influência que teve nos preços praticados. Para consolidar este ponto de vista, recua uma década. “Em 2008/2009 – andávamos nós a trabalhar o sector da microprodução – cada kilowatt instalado custava cinco mil euros. Hoje, passados pouco mais de 10 anos, custa… 500 euros. Ou seja, a mesma potência instalada, em 10 anos, diminuiu de custo 10 vezes”. Considerando que se trata de uma tecnologia que tem um “tempo de vida” de 25 anos e que o período de retorno do investimento varia entre os quatro e os cinco anos, tem-se tornado uma solução atractiva, com uma procura “muito grande” por parte dos sectores comercial e industrial.
Questionado sobre o objectivo do Plano Nacional de Energia e Clima, que prevê para 2030 que 80% da energia eléctrica produzida no País tenha como base fontes renováveis, e recordando que, em 2020, ficou perto dos 60%, o diretor-geral da dstsolar sublinha que há ainda um gap para suprir. Num prazo mais alargado, 2050 é apontado como “o ano da neutralidade carbónica”, o que significa que o balanço entre o CO2 emitido e absorvido seja zero. “Temos, aqui, um desafio, porque há duas maneiras de crescer. Fala-se muito nos grandes parques solares que vão ser concentrados em determinadas regiões do País – eu diria que isso é uma maneira de crescer rápido, mas há sempre um limite, quer em função da área, quer da capacidade da rede para escoamento de energia”.
A dstsolar assume, claramente, uma complementaridade: a de ocupar aquilo que são os telhados das zonas industriais. “Com este novo enquadramento, as zonas industriais têm toda a vantagem em se organizarem e constituírem numa comunidade de energia renovável, porque, juntos, a autonomia energética é muito maior do que cada um a olhar por si”, defende Raul Cunha. Entretanto, a empresa tem sido destacada no espaço mediático, ao ser-lhe atribuída, por concurso internacional, a liderança de um consórcio agregador de 14 empresas e nove centros de investigação, num projecto mobilizador – o Baterias 2030. Aprovado recentemente e representando um investimento de 8,3 milhões de euros, o novo projecto permite à dstsolar “dar mais um salto” no seu gráfico de crescimento imparável, mesmo em cenário conjuntural complicado. Isto porque, além do conjunto de vantagens associado às energias renováveis, são identificados alguns problemas, entre os quais a intermitência. Ora, a solução está justamente no armazenamento; e aqui é que releva o Baterias 2030. “Quando trabalhamos a energia solar, a noite é a eterna questão, o entrave à continuidade produtiva; quando trabalhamos a energia eólica, também nem sempre temos vento”.
Ao reflectir sobre o caminho apontado pela União Europeia rumo a 2050, Raul Cunha sublinha que o roteiro cruza obrigatoriamente com os temas do armazenamento e da mobilidade eléctrica, no sentido de dispormos de uma produção descentralizada, renovável e massificada. “Este projecto [Baterias 2030, baseado em Braga] é muito virado para as novas tecnologias de armazenamento e, por outro lado, para o desenvolvimento de soluções inteligentes que permitam reutilizar as baterias da mobilidade eléctrica”. Estamos, neste caso, a girar em torno da economia circular. “As baterias que estão nos carros eléctricos, passados seis ou sete anos, já não servem esse fim, mas podem perfeitamente servir uma indústria ou uma residência”. Embora constitua uma parte “mais pequena” do negócio, a empresa trabalha também ao nível dos sistemas solares térmicos, designadamente em instalações para aquecimento de água.
Além da actividade em si, a dstsolar, empresa do dstgroup, existe noutras latitudes e tem uma ambição bem-definida, que é revelada pelo director-geral, citando palavras do presidente do grupo, José Teixeira.* “Queremos ser uma empresa triple C, culta, cosmopolita e cool”. Por isso mesmo, a luz do Sol brilha no racional de uma organização portuguesa que investe no seu universo de trabalhadores (mais de 2.000, considerando todas as actividades e empresas do grupo), na convicção de que há mais vida para além dos números. Uma vida, também ela, com cultura cívica e dimensão estética. E, por isso, mais… muito mais susceptível de ser sustentável.
*Cliente do CA de Alto Cávado e Basto