1 de Abril 2018
Uma ideia genial que está a amadurecer.
Uma designação inglesa para um projecto de investigação português na fileira do tomate-indústria, que promete surpreender o mundo com uma grande inovação. O Greentaste quer aproveitar o tomate que em cada campanha não chega a ser colhido por não estar amadurecido (só em Portugal são desperdiçadas anualmente cerca de 120 mil toneladas) e, com base numa fórmula que ainda está a ser afinada, criar um novo produto: um fermentado láctico (idêntico ao que produz a chucrute e os pickles) que constitua uma nova referência-base para os industriais de molhos e temperos, representando para o consumidor um importantíssimo ‘algo mais’: é um probiótico. Ou seja, a formulação do produto incorporará um conjunto de micro-organismos com benefícios nutricionais e tudo o que isso significa num mundo cada vez mais sensível aos cuidados alimentares. Pela sua proposta inovadora e, acima de tudo diferenciadora, o Greentaste está a seduzir as atenções da comunidade científica internacional e da indústria
à escala global, sendo que em 2017 foi distinguido com o Prémio Empreendedorismo e Inovação CA, na categoria “Inovação em Colaboração”. Tendo por suporte um consórcio* agregador de diferentes competências, o projecto tem a coordenação da CCTI – Associação para a Investigação, Desenvolvimento e Inovação do Sector. João Silva, um dos seus porta-vozes, ajuda-nos a entender o estado da arte, em conversa que tem por cenário inicial o Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, incluindo visita aos seus Laboratórios. “Manifestamente, 2017 foi o ano de arranque e, ao mesmo tempo, um período de grandes validações para o Greentaste. O projecto assenta num tripé em que, por um lado, temos de definir e formular a variedade de tomate que vamos utilizar na fermentação; além disso, temos de acertar no grau de maturação do fruto; e, finalmente, temos de eleger uma bactéria láctica muito especial, idêntica à que está na base da chucrute e dos pickles. Neste momento, o primeiro pilar está garantido, ou seja, a variedade de tomate é dado adquirido. Quanto aos dois outros tópicos, estamos objectivamente no bom caminho”. O facto de o produto ser probiótico é algo que tem suscitado especial impacto nos contactos internacionais promovidos pela CCTI. Assim sucedeu, entre os exemplos mais significativos, durante o último Congresso Mundial do Tomate, onde, além dos parabéns e do incentivo de vários representantes da indústria, a grande notícia foi a validação do projecto por parte do reputado e exigente colégio de arbitragem, no qual dizem de sua justiça especialistas norte-americanos, italianos e espanhóis. “A dimensão probiótica é muitíssimo relevante porque um fermentado de tomate, só por si, não constituiria novidade, mais a mais num sector, o alimentar, em que é muito difícil – e por isso raro – inovar”, assinala João Silva. Os fundamentos do Greentaste assentam um produto que, do ponto de visto técnico, tem de ser reconhecido como comida, pelo que o tomate utilizado não pode estar em contacto com nenhum material que não seja autorizado pela indústria alimentar. “O tomate com que vamos trabalhar está no campo, absolutamente intacto; a sua rejeição resulta apenas do facto de não ter atingido o nível de maturação exigido pela indústria de tomate concentrado – apenas isso”, faz notar João Silva, reafirmando o especial contributo do projecto para mitigar o desperdício alimentar, neste caso, no que reporta ao tomate desaproveitado em cada campanha. Isso mesmo fomos perceber em visita guiada ao Ribatejo, como as imagens desta peça documentam. Numa incursão em plena colheita, salta bem à vista a calibração muito fina das máquinas, deixando no campo o tomate não suficientemente maduro para a indústria. É aí que entra o Greentaste. Uma ideia genial, essa sim, cada vez mais amadurecida, que traz para o presente um futuro sustentável em várias declinações. Da biológica à económica. “E o Prémio CA bem reconheceu esses argumentos diferenciadores”, regista João Silva.
*ESPIRALPIXEL; FRUTO MAIOR, ORGANIZAÇÃO DE PRODUTORES HORTOFRUTÍCOLAS; INSTITUTO NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO AGRÁRIA E VETERINÁRIA; INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA; ITALAGRO-INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTARES; MEMÓRIA SILVESTRE ; SOCIEDADE AGRÍCOLA ORTIGÃO COSTA; SOCIEDADE AGRO-PECUÁRIA DO VALE DA ADEGA; SOLUZER – SOCIEDADE AGRÍCOLA; TOMATERRA – ORGANIZAÇÃO DE PRODUTORES DE TOMATE.