CEO do Grupo SIBS

Madalena Cascais Tomé

"Juntos pela neutralidade carbónica até 2050"

CEO do Grupo SIBS

Madalena Cascais Tomé

"Juntos pela neutralidade carbónica até 2050"

Movida pelos desafios inadiáveis da sustentabilidade, a SIBS lançou, em Junho deste ano, um portal inovador para acelerar a transformação ESG – as três letras associadas às práticas ambientais, sociais e de boa governança das empresas. De modo simples e rápido, o SIBS ESG é uma preciosa ajuda na tarefa de estruturar e sistematizar a informação de acordo com a taxonomia e a regulamentação europeias. Por esta via se agiliza, também, a ligação das empresas às instituições financeiras, facilitando a utilização da referida informação, que passa a estar na base de vários processos bancários. Passados seis meses sobre o lançamento deste novo ecossistema, é tempo de um primeiro balanço, em entrevista exclusiva a Madalena Cascais Tomé, CEO do Grupo SIBS.


Acelerar a transformação ESG das empresas portuguesas é o propósito do portal SIBS ESG. Que objectivos concretos foram alinhados à partida?

Um desígnio que a todos nos une é conseguirmos ter a neutralidade climática até 2050. Isso traduz-se em medidas concretas que, no caso europeu, têm muito a ver com a regulamentação, concretamente um conjunto de imposições faseadas no tempo, sobre as instituições financeiras e as grandes empresas e, a partir daí, estendendo-se a todo o tecido empresarial. Faço notar que essa regulamentação envolve requisitos de reporting indispensáveis nomeadamente em temas como o acesso ao crédito ou a outros produtos e serviços financeiros. Ora, o objectivo concreto desta plataforma foi exactamente o de posicionar-se como ecossistema apto a ajudar as empresas a preencher os seus requisitos de reporting. E sendo europeus, transversais e abrangentes a praticamente todos os sectores de actividade, significa que esses requisitos são de uma complexidade muito grande. Acontece que o ecossistema SIBS ESG tem por suporte uma tecnologia facilitadora de um processo que, no arranque, se antevia muito desafiante para um contexto empresarial em que predominam as PME – de acordo com as últimas estatísticas, 78% do emprego e mais ou menos 60% do PIB estará neste universo. Além dos requisitos de reporting financeiros, as empresas têm agora também a necessidade de responderem aos requisitos de reporting de sustentabilidade; e o nosso ecossistema cá está para agilizar. A ideia é aumentar a visibilidade destas questões inadiáveis e convocar as consciências dos empresários e gestores, dotando as empresas de uma ferramenta facilitadora para responder a este desafio. Entrar na plataforma é, logo nos primeiros passos, iniciar um autodiagnóstico e aceder a um conjunto de recomendações e boas práticas. Gostaria de clarificar o seguinte: não é, nunca foi esse o pressuposto, que a empresa, ao preencher os seus requisitos de reporting, esteja 100% verde ou 100% ESG compliant – porque isso não vai acontecer. O importante, através do nosso ecossistema, é que a empresa identifique claramente a sua posição de partida e o que terá de fazer para que o seu processo decorra adequadamente e sem precipitações.

Como avalia a adesão da Banca portuguesa a este projecto?

Extraordinária. O nosso sector financeiro tem dado grandes provas de inovação e de cooperação. Muitas vezes, a inovação resulta não tanto por via tecnológica, mas pelo lado da cooperação. O Crédito Agrícola está entre os bancos pioneiros nesta solução, defendendo o investimento numa plataforma onde se pudessem estandardizar alguns dos critérios de recolha de informação, com uma preocupação muito grande de simplificar a vida das empresas também neste contexto específico. O facto é que, com o esforço de todos, o sector bancário está bem alinhado no compromisso conjunto de consciencialização para os temas ESG, assegurando, paralelamente, o apoio às empresas na recolha e partilha da informação necessária, num desafio tremendo de transição que convoca também as associações sectoriais e as Universidades. É que, neste movimento, ninguém se pode demitir do seu contributo.

Do ponto de vista das acções concretas e susceptíveis de potenciar o portal, o que devemos sublinhar?

Mais que um portal, o SIBS ESG é, insisto, um ecossistema. Gostaria de assinalar que são inúmeras as acções de formação que temos realizado, desde logo junto das áreas comerciais das instituições financeiras, para poderem apoiar os seus clientes neste domínio. Além disso, dispomos de uma equipa especializada e muito disponível, por contacto telefónico, para facilitar o processo às empresas que nos contactam. Acresce nesta dinâmica de cooperação que são várias as entidades, as associações sectoriais e as instituições públicas, por exemplo, o IAPMEI e o Turismo de Portugal, que num segundo momento chamam a si o esforço de acompanhamento dos seus parceiros directos. Sem esquecer, é claro, o apoio das Universidades na disseminação das mensagens-chave associadas a um futuro que tem de estar bem presente em todos nós.

E quanto aos desafios com que se têm deparado na afirmação bem-sucedida do SIBS ESG?

O grande desafio tem sido a quantidade, a diversidade e, em algumas matérias, a complexidade da informação nova que é preciso as empresas reportarem. À data de hoje, quase 80% das empresas que já preencheram informação no portal são exportadoras. Num contexto não só nacional, mas, sobretudo, cada vez mais global, as empresas que possam demonstrar que são ambientalmente mais verdes e socialmente mais conscientes vão também, com toda a probabilidade, ser mais competitivas do ponto de vista tecnológico e da sustentabilidade. Entretanto, essa pressão vai continuar a acelerar e, muito especialmente, por parte dos próprios consumidores no que tem a ver com o acesso ao financiamento verde e aos incentivos relacionados. Agora, sem dúvida, entre os desafios maiores temos a adesão das empresas e o esforço que daí decorre, a escassez ou a necessidade de recursos que sejam capacitados nestas áreas.

No que ‘reporta’ aos desejos e ambições da SIBS, neste capítulo específico de um futuro que – como referiu – se deseja bem presente, o que devemos assinalar?

Gostaria muito que este ecossistema ESG, que, sublinho, não é só SIBS, é um ecossistema de todos, desde logo das instituições financeiras como o Crédito Agrícola, que foram as primeiras a avançar e se juntaram a esta iniciativa pioneira de cooperação, contribua para que Portugal seja dos primeiros países a atingir o objectivo europeu de neutralidade carbónica até 2050.

O que interpela e move a SIBS, 41 anos depois da sua fundação?

O tema da inovação, sem dúvida – e Portugal tem um dos sistemas de pagamento pioneiros no mundo, podemos afirmá-lo com toda a convicção. Na mesma linha, destaco a segurança. E, medido com o benchmark e reconhecido pelo Banco Central Europeu, temos, igualmente, um dos sistemas de pagamento mais seguros, fruto de muito serviço, variadíssimas soluções tecnológicas e da nossa abordagem Security by Design. À inovação e à segurança devemos ainda juntar a eficiência – o nosso sistema de pagamento está, objectivamente, entre os mais eficientes; é justo dizer que a SIBS contribui de forma muito afirmativa para trazer eficiência às soluções digitais e às soluções tecnológicas que colocamos ao dispor dos clientes e instituições financeiras que utilizam os nossos serviços. Hoje, as nossas soluções estão presentes em mais de 25 países e são utilizadas diariamente por 150 milhões de utilizadores. Desenvolvemos uma actividade de escala e, por essa razão, olhamos para o horizonte com uma necessidade de continuar a crescer. Afirmar a SIBS no espaço europeu é, sem dúvida, cada vez mais importante. Mas, a pensar nos próximos 40 anos, esperamos que a SIBS continue a ser um actor muito relevante no contexto dos pagamentos – e não só a nível europeu.