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Porque a ciência tem nomes, designações, referências que o comum dos cidadãos nem sempre alcança num abrir e fechar de olhos, convirá começar por estabelecer a relação que faz a ponte entre dois projectos: o MycoExplorer e o PineEnemy. O primeiro – representando uma deriva do segundo que vamos clarificar já a seguir – baseia-se na exploração do potencial nematodicida da micoflora natural, ou seja, os fungos presentes no pinheiro-bravo (Pinus pinaster) infectado pelo agente causador da doença da murchidão do pinheiro (DMP), o nemátode fitoparasita Bursaphelenchus xylophilus. Em bom rigor, “o MycoExplorer é uma consequência do PineEnemy, e pode ser encarado como um outcome promissor no combate à DMP, assente na designada nature based solution, com recurso a fungos naturalmente presentes nos povoamentos florestais”, sublinha, na sua explicação inicial, a investigadora principal do projecto, Cláudia Vicente, no desfiar dos vários argumentos que conferem valor, pertinência, investigação consequente e dimensão competitiva ao MycoExplorer. Neste cenário, “os factores determinantes para o início dos trabalhos de pesquisa e de descoberta” foram a relevância maior do pinheiro-bravo na constituição e desenvolvimento da floresta nacional e o impacto dramático da DMP na biodiversidade dos conjuntos florestais. Virá a propósito assinalar que a doença foi detectada pela primeira vez em 1905, no Japão, tendo-se disseminado aos países em redor – com predominância para a China, Taiwan e Coreia do Sul ¬– ao longo da década de 80, atingindo Portugal em 1999. A equipa de investigadores que integra ambos os projectos distinguida pelo Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola não esconde a sua mágoa ao dizer – e reiterar – que “infelizmente, o método mais usado para travar a dispersão do nemátode consiste no abate de árvores doentes – ou aparentemente sãs – ao redor dos pontos de detecção da doença, tendo por isso um efeito devastador nas nossas florestas”. Sem dúvida, um desafio enorme visando o combate à DMP; mais que uma sigla, três letras sintetizando todo um potencial destruidor, ao significar, nunca é de mais lembrar, a murchidão do pinheiro-bravo. Uma batalha que implica o desenvolvimento de soluções inovadoras, aportando eficiência, ou seja, futuro sustentável. De acordo com a investigadora do MycoExplorer, “há uma exigência científica e financeira, apoiada por inúmeros projectos, designadamente no âmbito da Fundação para a Ciência e a Tecnologia [FCT]”. Entretanto, é bom saber, pela própria voz dos investigadores, que existe cada vez mais acesso a equipamentos de elevada performance, aptos a determinar, rapidamente e com robustez, os princípios activos dos compostos biológicos com o potencial de controlar o NMP. O MycoExplorer foi estruturado em quatro fases. As duas primeiras reportam à investigação “com as análises transcriptómica e metabolómica dos fungos naturalmente existentes nas árvores (micoflora natural) e já identificados pelo projecto PineEnemy”. A fase terceira envolve “a aplicação em campo, também conhecida por proof-of-concept”. E, finalmente, a quarta tem a ver com “a transferência de conhecimento à comunidade e principais stakeholders”. É esta, na sua essência, a espinha dorsal da investigação. Seguem-se os ensaios de campo, ainda em condições controladas e nas próprias instalações do INIAV. O que move, o que mexe com esta equipa de ciência é “comprovar que os fungos seleccionados mantêm as suas propriedades antagonistas em relação a B. xylophilus no seu hospedeiro, o pinheiro-bravo, em condições naturais, , salvaguardando, igualmente, a sanidade da árvore”. O MycoExplorer irá estabelecer ensaios, sob a tutela das autoridades fitossanitárias e em colaboração com as associações de produtores florestais, “para testar os produtos no terreno”. Entretanto, é de assinalar que o projecto regista uma dinâmica que não pára. Apontando ao valor da sustentabilidade, no quadro das competências do INIAV, a cooperação entre laboratórios de Nematologia apresenta resultados tangíveis e que prometem iluminar, com a luz da investigação frutuosa, o nosso tecido florestal. Por falar nisso, neste contexto de ágil agregação de competências, vemos outra intensidade no brilho do olhar da investigadora responsável pelo laboratório de Nematologia do INIAV (NemaINIAV), Maria de Lurdes Inácio, quando frisa que “estas colaborações são para continuar”, considerando que “só a conjugação de esforços e saberes e um grande empenho em torno de um objectivo comum [neste caso, mitigar os efeitos da DMP] permitirão desenvolver soluções com uma grande componente de inovação e respeitando o pacto ecológico, condição indispensável para o futuro da fileira do pinho em Portugal”. Projectos como o MycoExplorer, mobilizadores de apoios concretos e de reconhecimento institucional, por via, nomeadamente, da FCT e do Grupo CA, são bem eloquentes da excelência da investigação que se faz em Portugal. “A equipa do projecto-matriz [o PineEnemy, do qual deriva, como referido inicialmente, o MycoExplorer] está por isso muito grata por tudo quanto nos incentiva a continuar a investigar e a fazer ciência, numa lógica de cooperação real e que dá frutos”. E nós, CA Revista, não podíamos estar mais de acordo com Cláudia Vicente.