1 de Maio 2023

O mundo vai gostar de saber... e saborear.

… e saborear. A Oceano Fresco criou, em Lagos, o primeiro viveiro de amêijoas em mar aberto do mundo. Um santuário de águas puras a quatro milhas náuticas da costa algarvia, exemplo de sustentabilidade em todas as suas declinações, fruto da ciência e da investigação aplicada. Aqui, os bivalves de mar aberto são aturalmente premium. Alimentam-se, apenas e só, do que o mar tão generosamente oferece: as microalgas

Quando, em 2020, entrámos pela primeira vez no universo da Oceano Fresco*, na reportagem que então aconteceu na sua maternidade de amêijoas instalada na Nazaré, aos olhos do repórter o momento foi revelador. Desde logo pela surpreendente afirmação de um projecto português agregador de conhecimento e competências de investigadores de diferentes geografias, alinhados num propósito. “Gostaríamos de provar que é possível regenerar a Natureza cultivando e comendo bem. Os bivalves constituem uma fonte de proteína animal estupenda, porque são sustentáveis, saudáveis e saborosos. A partir daí, queremos representar a oferta alimentar do século XXI, trabalhando naturalmente em grande escala, porque só assim terá impacto”. São palavras de Bernardo Carvalho, CEO e founder da Oceano Fresco, que desta vez nos recebe em Lagos, junto da sua equipa. Numa manhã de calor intenso que prenuncia o Verão, embarcamos a Sul da Praia de Porto de Mós. Destino: Barras de Alvor, onde a cerca de quatro milhas náuticas da costa está a nova joia da coroa da empresa: o viveiro em mar aberto. À medida que encurtamos distância face ao navio Oceano Fresco que opera nestas águas, o sol parece iluminar cada vez mais o sorriso de Bernardo Carvalho. É fácil perceber porquê… “Este é o primeiro viveiro de amêijoas em mar aberto do mundo”, frisa bem o nosso anfitrião, explicando que estamos numa área de 100 hectares, o equivalente a outros tantos campos de futebol. Já a bordo do navio, vemos as lanternas (assim se chamam os sacos que acomodam os bivalves sob as águas) a ser levantadas do viveiro pela equipa da Oceano Fresco. Cada lanterna tem cerca de vinte andares e pode levar entre 30 a 50 kg de amêijoa-macha (Venerupis corrugata), uma espécie nativa europeia. “Esperamos fechar, até 2024, o ciclo de primeira produção e respectiva operação de vendas que, considerando a actual capacidade de cultivo fixada em 500 toneladas/ano, permitirá um volume de negócios inicial entre os 10 e os 15 milhões de euros”. A montante, convém lembrar, há toda uma história, um processo, um percurso que começa na Nazaré: desde 2015, quando foram dados os primeiros passos, até ao presente, a maternidade da Oceano Fresco já produziu mais de 100 milhões de amêijoas-bebé. A partir daí foram cultivados cerca de 40 milhões de amêijoas no viveiro em mar aberto. Ainda sobre o que acontece na Nazaré, vem a propósito destacar a construção, em 2022, de um centro de distribuição e embalamento, já que a estratégia aponta, igualmente, para a comercialização de amêijoa embalada e com marca própria. O ano anterior foi também relevante pela abertura de um escritório da empresa na Nova SBE, em Carcavelos, o que, de resto, faz todo o sentido. Bernardo Carvalho sublinha a importância-chave da inovação ao longo de toda a cadeia de valor, implicando um trabalho em rede com universidades, centros de investigação e outros parceiros externos. A Oceano Fresco é uma empresa produtora de bivalves com escala e de forma sustentável e inovadora. Primeiro, porque tem uma abordagem de I&D de biotecnologia e recorre à ciência de forma contínua para estudar como melhor fazer crescer e sobreviver os bivalves. Segundo, porque investe em infra-estrutura de produção numa lógica integrada vertical e com potencial de escala, leia-se maternidade e viveiro em mar aberto. Terceiro, porque a empresa quer crescer e criar valor como referência inovadora de produção e alimentar. Assim se justificam os diferentes parceiros especializados numa lógica de “colaboração aberta”. A ideia é ir, em conjunto, ultrapassando os desafios que se vão deparando. Entretanto, a empresa faz parte de uma das agendas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o chamado Pacto da Bioeconomia Azul. Nesse contexto, lidera um dos projectos verticais de inovação – o Vertical Bivalves – coordenando o trabalho de doze parceiros institucionais e empresariais que convergem no mesmo compromisso da Oceano Fresco. “A nossa missão é escalar algo a nível de biologia já muito sustentável, os bivalves. E escolhemos fazê-lo em mar aberto e só com espécies nativas europeias, o que traz vantagens ambientais acrescidas. Somos, como fiz questão de frisar, o primeiro viveiro de mar aberto de amêijoa do mundo. Essa circunstância vale por dizer que as águas são de muita qualidade – a chamada classe A –, uma zona de não pesca, uma espécie de santuário marinho. As amêijoas podem-se comer directamente do viveiro. No mar aberto, há tanta renovação oceânica que não é preciso depurar, pode-se comer sem outra intervenção – é fantástico”.

CONSCIÊNCA DO FUTURO

A cultura de sustentabilidade da Oceano Fresco, no seu propósito de economia circular e agricultura regenerativa, quer dizer, muito simplesmente, o seguinte: “Quanto mais conseguirmos produzir, mais impacto positivo ambiental, económico e social, iremos gerar. Até 2025, estimamos sequestrar entre 250-450 toneladas de CO2 só nas conchas. O nosso compromisso passa pela reposição dos stocks naturais de espécies nativas europeias, ameaçadas por espécies invasivas. Além de que estaremos a disponibilizar um superalimento [os bivalves de mar aberto] fonte de proteína sustentável, saudável e muito saborosa”. Outra vantagem neste modelo de aquicultura, ou “agricultura no mar”, como Bernardo Carvalho gosta de dizer, é que não entra aqui ração ou antibióticos. O próprio ecossistema produz as microalgas que alimentam os bivalves. Ainda do ponto de vista da sustentabilidade, há um estudo a decorrer cujos primeiros resultados reforçam a ideia, aparentemente improvável, de que “os bivalves podem, inclusivamente, melhorar o ambiente em que são cultivados”. A explicação do CEO da Oceano Fresco está na referida capacidade de os bivalves sequestrarem CO2 na concha e também de filtrarem as águas. Quanto ao escoamento do produto, a estratégia inicial é trabalhar o mercado ibérico, em parceria com distribuidores premium e lojas muito seleccionadas. “O transporte de amêijoas frescas vivas é delicado. Queremos ir para além da Península, com certeza, mas, inicialmente, as atenções estão aqui concentradas. Quando atingirmos a estabilidade que projectamos, então sim, aí veremos a possibilidade de crescer para outros mercados”. Sempre que espreita esse horizonte, o CEO considera que o grande argumento competitivo da Oceano Fresco é, logo à partida, a oferta de um produto único no mundo: amêijoa cultivada em mar aberto. Depois, a capacidade de entregar os tamanhos certos de modo fiável. “Parece de menor relevância, mas o facto é que não há muitos produtores de bivalves que consigam fornecer ao longo ano as quantidades e os tamanhos acordados, isso é muito difícil. Estes dois argumentos de venda, por um lado, um produto de alta qualidade obtido em águas puras de mar aberto e, finalmente, a sua entrega fiável representam uma oferta de valor rara que pende, objectivamente, a nosso favor”.

Bernardo Carvalho fala da evolução da empresa e dos passos seguros que foram dados desde 2015. Essa prudência permitiu criar fundamentos para crescer em toda a linha, como bem demonstra o número de Colaboradores: eram 12 no início, são agora 42, na sua maioria dedicados à produção, desde a maternidade ao viveiro em mar aberto. Por falar em crescimento, o CEO da Oceano Fresco vê o Crédito Agrícola como parceiro de primeira linha nessa dinâmica imparável, “o banco que realmente nos entendeu como empresa nova e, além disso, inovadora”. E com uma vantagem que faz toda a diferença: “a sua capacidade de decisão local”. Destaca, ainda, o facto de o CA ser um banco que entende o que é a agricultura – reitera a ideia de que a aquicultura é a ‘agricultura no mar’ –, ou seja, um banco que “sabe o que são negócios com ciclos longos, e isso ajuda muito”. Depois, no contexto dos grandes desafios da sustentabilidade, “ambos partilhamos o mesmo compromisso, a mesma consciência do futuro”. Sem dúvida.

*Cliente do CA de Alcobaça, Cartaxo, Nazaré, Rio Maior e Santarém