CEO da Casa Ermelinda Freitas

Leonor Freitas

"O segredo é acreditar"

CEO da Casa Ermelinda Freitas

Leonor Freitas

"O segredo é acreditar"

Cinco gerações, desde 1920 e sempre no feminino, contam a história desta marca de vinhos de sucesso. Tanto sucesso que Leonor não pestaneja, nem rectifica, quando a tratam por Ermelinda, o nome da sua mãe. Simplesmente, sorri. O sorriso de uma das poucas mulheres da sua geração com estudos superiores, nascidas em Fernando Pó, no concelho de Palmela. Hoje, comendadora e representante dessa linhagem de portuguesas que colocam Portugal no mapa do Mundo, pela sua coragem e obra feita.


Quase num abrir e fechar de olhos, a Casa Ermelinda Freitas passou a produzir em três regiões vitivinícolas – à Península de Setúbal, juntou-se o Douro e a Região dos Vinhos Verdes –, onde são trabalhados cerca de 500 hectares de vinha. O portefólio abrange já perto de uma centena de referências. E as medalhas, superando as duas mil, sucedem-se a um ritmo vertiginoso…

É verdade. Ainda há poucos dias, o nosso primeiro Douro, o Quinta de Canivães Tinto Reserva 2019, trouxe de França, no concurso Vinalies Internationales, uma Medalha de Grande Ouro. É fantástico tudo o que está a acontecer-nos, mas nada na vida, principalmente o sucesso, acontece por acaso. Há aqui muito trabalho, uma dedicação sem limites e Colaboradores que dão o melhor de si em tudo o que fazem, seja nos campos, na área da produção, na promoção dos nossos vinhos, em Portugal e por esse mundo fora. Muita gente não sonha a loucura que foi pôr esta Casa nos trilhos de um sucesso que ninguém imaginou. Mas, eu sonhei, acreditei sempre. Mesmo quando me diziam, gente importante neste sector, que eu não era capaz, que o negócio como hoje o conhecemos não era coisa para mim. Foi o que eu quis ouvir. Sempre cresci em contramão. E quando se acredita, não se desiste. Éramos três, eu incluída, quando decidi embarcar nesta aventura dos vinhos engarrafados, hoje somos mais de 100 e, durante as campanhas, quando é tempo de podar ou vindimar, chegamos a ser à volta de 150. Começámos com 60 hectares, actualmente são 500. É o que faz acreditar. E não desistir nunca.

É já no início dos anos 2000 que se dá o verdadeiro ponto de viragem, quando vai à Vinexpo a Bordéus, onde conhece o então jovem enólogo Jaime Quendera. A partir daí, nasce uma parceria imbatível no reconhecimento, nos prémios, nos novos consumidores que se rendem aos vinhos com a chancela Ermelinda Freitas…

Essa viagem foi isso mesmo, o ponto de viragem. Convém lembrar que, assim de um dia para o outro, nós tivemos de decidir o que queríamos para o futuro do negócio da família. O vinho engarrafado era, nesse tempo, uma pequenina experiência que íamos tendo, pouco mais de seis mil garrafas por ano. Desde sempre e principalmente com os meus pais, a nossa vocação era produzir e vender vinho a granel. Dependíamos quase totalmente de um engarrafador que, um dia, para grande surpresa nossa, nos disse que já não precisava de comprar. É claro, soaram os alarmes e uma pergunta tirava-nos o sono: como escoar a nossa produção, que à época era de 1,8 milhões de litros de vinho? A resposta foi aceitar o desafio, ir à luta e acreditar. Acreditar sempre. E nunca desistir. Assim fiz e assim fizeram os que, como eu, acreditam que podemos ter sucesso se trabalharmos juntos, dando o melhor que pudermos e soubermos. Na volta daquela viagem a Bordéus, eu e o meu marido não hesitámos em investir neste jovem enólogo Jaime Quendera, que nessa edição da Vinexpo deixou meio mundo de boca aberta com o seu talento, a sua inteligência e o seu grande à-vontade no mundo dos vinhos. Adivinhámos, logo ali, um futuro brilhante. Os muitos prémios que esta parceria vem conquistando são a prova disso. É curioso, não me canso de recordar, que apenas dois anos depois dessa viagem histórica, o nosso tinto Terras do Pó foi a Bordéus conquistar a Medalha de Prata e, logo no ano seguir, trouxemos a Medalha de Ouro!

O segredo de um crescimento imparável em todos os mercados onde estão presentes tem uma relação directa com a percepção muito nítida dos diferentes perfis de consumidores…

Investimos muito nisso. Trabalhamos todos os dias para chegar a um número cada vez maior de apreciadores de vinho e a preços para todas as bolsas, o que significa agradar a várias gerações e oferecer-lhes experiências e momentos especiais. Quando olhamos para a procura imensa que vamos tendo em muitos países nos vários continentes, só podemos estar muito gratos aos portugueses presentes em todo o mundo, e por tudo o que têm feito pelos nossos vinhos. Numa viagem que fiz recentemente ao Luxemburgo, agradeci de viva voz à comunidade portuguesa, em mensagem através da Rádio, esse apoio que muito nos honra. O mercado da saudade é especial e tem, além disso, uma importância muito grande ao fazer a ponte para os consumidores estrangeiros desses países da nossa diáspora. E a nossa diáspora mexe connosco todos os dias. Até as novas gerações, gente ligada à ciência ou à investigação, médicos, enfermeiros, jovens que estão a mostrar o seu talento noutros países, muitos são os que nos contactam a perguntar onde podem comprar os nossos vinhos na cidade onde se encontram. Tudo isto me enche de satisfação. E por isso cá estamos, a trabalhar e a investir cada vez mais.

Fernando Pó, na Península de Setúbal, é o centro de uma actividade que, entretanto, se ramificou na Quinta de Canivães, no Douro, e na Quinta do Minho, na Região dos Vinhos Verdes. O que vê ao olhar para os negócios a Norte?

Vejo, em primeiro lugar, uma paixão antiga e agora concretizada: o Douro. Começámos com um azeite, que é estreia absoluta para mim e está a ser uma bela surpresa, e a pouco e pouco estamos a começar com os vinhos; esta Medalha de Grande Ouro de que já falei, conquistada em França, não podia ser melhor sinal de que estamos no bom caminho e outros grandes vinhos estão já ali a ser trabalhados. Sobre a Quinta do Minho, também só tenho motivos para ficar satisfeita: são quatro gamas de verdes, duas para a restauração (Campo da Vinha e Quinta do Minho) e duas para as grandes superfícies (Gábia e Fugaz). Todas estão a ter boa aceitação por parte do consumidor, a começar pela variante ligeira [8,5º], a nível nacional, e com vários países a aumentarem sucessivamente as encomendas.

O futuro da Casa continuará a ser, como até aqui, no feminino?

A minha filha, Joana, está a fazer o seu percurso na nossa gestão. O meu filho, João, que é o homem das tecnologias da informação, concorda com o rumo traçado e identifica-se com as ideias da irmã, representante da quinta geração: a história começa em 1920, com a minha bisavó Leonilde; a seguir, vem a minha avó Germana; depois, a minha mãe, a verdadeira Ermelinda [risos], nome que passou a identificar a Casa e que é a essência da nossa marca. O caminho está bem definido e passa por um negócio cada vez mais profissionalizado em todas as estruturas, mas honrando a tradição da família e a grande responsabilidade que herdámos e temos o dever de transmitir. A de sermos capazes de seguir o seu exemplo e os seus valores. A simplicidade, a humildade e a generosidade. E nunca dar nada por conquistado. Na vida, quando menos esperamos, o vento pode mudar. Temos de trabalhar no limite das nossas capacidades e sempre lado a lado, porque somos todos iguais. Nem mais, nem menos.

Está revelado o segredo do sucesso da Casa Ermelinda Freitas?

O segredo é acreditar nestes valores, nestes ensinamentos e naquele princípio que volto a defender: quando se acredita, não se desiste. Só assim se explica termos chegado à quinta geração e, queremos acreditar, com tudo para seguirmos em frente. Uma coisa certa: para continuarmos a oferecer experiências e momentos felizes, temos de investir cada vez mais na satisfação de quem procura os nossos vinhos – e agora também, é claro, o nosso azeite. A nossa aposta é na qualidade em todos os vinhos que fazemos, mesmo nas gamas mais económicas, bag-in-box, com o MJ Freitas, que continua a ser uma preferência dos nossos consumidores; assim como não podemos deixar de referir, entre as marcas mais emblemáticas, as gamas Terras do Pó, Dona Ermelinda, as Monocastas da Casa Ermelinda Freitas e o nosso grande vinho de topo, o Leo d’Honor, que representa o grande Castelão da nossa região.

Trabalhamos todos os dias para chegar a um número cada vez maior de apreciadores e a preços para todas as bolsas, o que significa agradar a várias gerações e oferecer-lhes experiências e momentos especiais.

Quando olhamos para a procura imensa que vamos tendo em muitos países nos vários continentes, só podemos estar muito gratos ao mercado internacional destacando os nossos portugueses presentes em todo o mundo, por tudo o que têm feito pelos nossos vinhos.