1 de Abril 2024

TrunkBiocode

Um biossensor que detecta agentes patogénicos do lenho da videira sem danificar a planta, fornecendo resultados em menos de 10 minutos, sem necessidade de mão-de-obra especializada e de análise laboratorial. Vamos conhecer o projecto distinguido com Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola 2023, na categoria “Resposta a Stresses Bióticos e Abióticos”.

Paula Martins-Lopes lidera a equipa multidisciplinar da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro que encontrou a solução para eliminar doenças do lenho da videira. A equipa mapeou os agentes fúngicos relevantes em Portugal, identificando as sequências de ADN específicas de cada doença, o que culminou no desenvolvimento de um biossensor inovador. “Estas doenças, causadas por agentes patogénicos como é o caso dos fungos, representam uma séria ameaça para a indústria vitivinícola, afectando a produção e a qualidade das uvas. O TrunkBioCode* oferece uma solução avançada para a detecção rápida e eficaz, permitindo intervenções precoces que podem salvar vinhas inteiras de uma devastação iminente”, avança a investigadora.

Estamos, em boa verdade, perante um projecto revolucionário que tem no centro o tal biossensor capaz identificar problemas precocemente, sem necessidade de extrair ADN ou de amplificar e, muito importante, sem destruir a planta. “Requer apenas uma porção de material vegetal do lenho, que pode ser obtida com uma broca muito fina. É um procedimento realizado in loco, permitindo rapidamente ao viticultor a marcação e identificação da doença na planta, o que, desde a colheita até ao resultado final, demora apenas 10 minutos”, explica Paula Martins-Lopes. A aplicação deste biossensor na viticultura é, sublinha a investigadora, um avanço muito significativo no diagnóstico precoce de stress biótico na videira, impedindo a introdução de plantas contaminadas nas vinhas e minimizando as consequências económicas negativas associadas às doenças do lenho.

Para os potenciais parceiros na área da viticultura, o TrunkBioCode representa uma nova era no diagnóstico de doenças vitícolas, oferecendo uma solução rápida, eficiente e que responde aos desafios da consciência ambiental. É que, ao permitir o controlo sanitário das plantas e a identificação precoce de plantas doentes, o projecto contribui para uma viticultura mais sustentável, reduzindo a necessidade de pesticidas e os custos de replantação de vinhas infectadas. “Parcerias estratégicas com viticultores, organizações agrícolas e entidades governamentais podem impulsionar, ainda mais, a adopção desta inovação e abrir caminho a uma viticultura sustentável e produtiva”, defende Paula Martins-Lopes. Entretanto, a metodologia do TrunkBioCode foi já validada para uma doença do lenho, a Eutypa lata, mas o objectivo é estender esta tecnologia a outras doenças do mesmo universo. Com sondas específicas em vários fungos relevantes, a equipa está agora pronta a avançar para a próxima fase do projecto. “Estamos determinados a continuar a desenvolver soluções que beneficiem a agricultura de precisão e outros domínios susceptíveis de tirar partido desta tecnologia”, revela a investigadora, em nome de uma equipa que garante “excelência científica, sustentabilidade e impacto positivo”.

O reconhecimento do propósito estabelecido, do trabalho feito e das suas mais-valias valeram o Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola 2023, na categoria “Resposta a Stresses Bióticos e Abióticos”. A investigadora considera a distinção “uma honra e um testemunho do valor e do potencial deste projecto, confirmando a sua importância para o sector agrícola”. Estão de parabéns Paula Martins-Lopes e Filipe Azevedo-Nogueira (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, BioISI), Helena M.R. Gonçalves (REQUIMTE Rede de Química e Tecnologia), David Gramaje (Instituto de Ciencias de la Vid y del Vino, Espanha), Cecília Rego (Instituto Superior de Agronomia) e Ana Margarida Forte (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, BioISI).



* Plataformas de Diagnóstico aplicadas às Doenças do Lenho em Videira
DOI 10.54499/PTDC/BAA-DIG/1079/2020