1 de Dezembro 2021

GO Tinturaria Natural

Sem perder o fio à meada, como se sugere na sua assinatura, o GO Tinturaria Natural visa a utilização dos corantes naturais em fibras (também elas) naturais. O objectivo tem como pano de fundo a valorização da lã da ovelha Campaniça, raça portuguesa predominante em terras do Baixo Alentejo. O novelo com que se cose este projecto nasce, assim, do fabrico de fios com tingimento natural, permitindo a criação de produtos bem inovadores. E assim estamos, formalmente e por extenso, com o Grupo Operacional Tinturaria Natural. Que naturalmente ‘coloriu’, com a sua ousadia de inovar, em tons ‘verde e laranja’ a distinção como finalista do Prémio Empreendedorismo e Inovação CA 2020, na Categoria Inovação em Parceria

 

Este é um projecto que, entre outros méritos, tem a capacidade de chamar a si uma parceria alargada de entidades, produtores, investigadores e técnicos, que percorrem, no âmbito dos seus saberes, a criação de conhecimento na germinação e produção das plantas, a exploração de formas de extracção e a conservação da matéria, até à valorização de um produto autóctone.

O GO Tinturaria Natural nasceu no Centro de Competências da Lã, com a missão de investigar a produção de plantas tintureiras. E, a partir daí, estudar a aplicabilidade da tinturaria em fibras – buscando o predomínio dos processos naturais. O projecto foi encorpando. Atingida a devida robustez e cumpridos os diferentes requisitos, apresentou-se a financiamento. Há por parte da equipa do GO Tinturaria Natural, em razão das evidências demonstradas nas várias fases de investigação, o compromisso de não só observar o potencial de um pequeno nicho de mercado. Bem pelo contrário, já com a indústria têxtil nacional na agenda de contactos preliminares, a ideia é saltar para o Mundo, ao som do ‘balido afinado’ da sustentabilidade.

É convicção dos autores do projecto de que se assiste, hoje, a “uma reversão muito positiva no que respeita ao interesse na utilização de corantes naturais em fibras naturais”, assinala Joana Leão (ADPM). Esta prática vem do tempo dos Romanos, e tudo terá começado em cidades como Florença, Génova e Veneza. Mais tarde, ganham importância o pastel dos tintureiros de Thüringen, na Alemanha, e a garança, produzida nos Países Baixos e no Sul de França. No século XIX, assiste-se a um revés quando os corantes sintéticos vieram para ficar (ainda que não para sempre, felizmente). Os novos tempos trouxeram as preocupações ambientais e a emergência das tecnologias sustentáveis – o tingimento com plantas tintureiras voltou a fazer (todo) o sentido.

No caso do GO Tinturaria Natural, o renascimento de que falamos é firmado pela “aposta nos produtos e recursos locais, desde a lã da ovelha Campaniça, proveniente do Baixo Alentejo, à Giesta-dos-Tintureiros e ao Sorgo. Cultivar plantas tintureiras ajuda à rotação de culturas – prática associada à sustentabilidade, na conservação dos solos –, a melhorar a fertilidade, a diminuir a incidência de pragas e a aumentar a produtividade”, explica Carmo Serrano (INIAV). Além de, em locais arenosos, contribuir para valorizar a paisagem e, desse modo, ‘tingirem’ com outras cores o cenário agrícola. Entretanto, foram realizados testes em diversas espécies, desenvolvidos métodos diferenciados de reprodução, de modo a proporcionarem elevados rendimentos de corantes e a adequação a várias tipologias de cultivo. Reconhecemos hoje em Portugal, e esta ideia é bem reveladora disso mesmo, que a tinturaria natural oferece um rico e variado conjunto de tonalidades, e também pode criar rendimento, associado à exploração e produção sustentável daquelas plantas.

Os argumentos do projecto situam-se a outros níveis. “Os corantes naturais são biodegradáveis, anti-alergénicos, não cancerígenos e de baixa toxicidade”, reforça Carmo Serrano. Retomando a história, apesar da já referida substituição pelos produtos sintéticos no tingimento de tecidos e de peles, nas áreas alimentar, farmacêutica e cosmética, nos pigmentos de artistas e nos reagentes analíticos, os corantes naturais nunca, em momento algum, haviam perdido, definitivamente, a sua importância. Agora, a realidade é bem diferente: a indústria de cosméticos responde pela procura de cerca de 75% dos corantes naturais, seguida da indústria têxtil, com 15%. O que aqui se deve igualmente sinalizar é a acentuada procura de corantes naturais para outras aplicações – no papel, nos bioplásticos, na madeira e nos restauros de tecidos antigos e de arte. Valorizando tudo isto, estamos a abrir caminho à reintrodução de novas plantas tintureiras no mercado português. Ora, esta procura por parte dos nossos consumidores deve ser, naturalmente, acompanhada dos devidos estudos científicos e bases de conhecimento. E, também nesses fios condutores, o GO Tinturaria Natural tem uma palavra a dizer. “Estamos já na última fase de pesquisa em laboratório.

Com o encerramento de algumas unidades de investigação, registou-se um atraso motivado pelos diversos períodos de confinamento, sendo assim inevitável prolongar o tempo de execução do projecto até Junho do próximo ano”, faz questão de sublinhar Joana Leão. O alargamento do prazo possibilitará a obtenção de resultados mais consistentes, uma melhor comunicação do projecto ao potencial consumidor, aos artesãos, às indústrias e ao Centro de Competências. Até lá, a página web do GO Tinturaria Natural vai estando em permanente actualização. “É muito importante ir dando nota dos novos passos que marcam a agenda do projecto, designadamente junto dos parceiros envolvidos, ADPM – Associação de Defesa do Património de Mértola, Aroma do Vale, CEBAL, INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, UBI – Universidade da Beira Interior e Vila Bita, tão fundamentais para o desenvolvimento do GO Tinturaria Natural”, defende Joana Leão, não deixando de reconhecer a importância do Prémio Empreendedorismo e Inovação CA 2020, o que, nas suas palavras, pressupõe “um profundo agradecimento ao Crédito Agrícola”. Agradecidos estamos nós. Naturalmente.