1 de Abril 2021

Movidos a biofuturo

A Stex sabe como obter biocombustível a partir de biomassas residuais, sejam florestais, agrícolas ou resíduos sólidos urbanos. Movida por uma tecnologia 100% sustentável, a empresa viu o seu projecto duplamente reconhecido no Prémio Empreendedorismo e Inovação CA 2020, ao vencer na categoria “Economia Circular e Bioeconomia”, e ser distinguido com o Born from Knowledge, pela ANI – Agência Nacional de Inovação

A comunidade brasileira em Portugal bem pode orgulhar-se da Stex. Uma empresa portuguesa, constituída em 2019, que opera uma unidade industrial-piloto no LNEG (Laboratório Nacional de Energia e Geologia), e que combina as competências de um gaúcho, Eduardo Diebold, às de um pernambucano, Lucas Coelho. Eduardo, engenheiro químico e de software, e Lucas, farmacêutico e doutorado em engenharia química, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, estão na primeira linha da expertise europeia em tecnologia que contribui para a transição energética que nos leve a uma sociedade neutra em carbono.

No caso da Stex, esse contributo faz girar a economia circular através de biocombustíveis líquidos avançados, obtidos a partir de biomassas residuais, sejam florestais, agrícolas ou resíduos sólidos urbanos. Para termos uma ideia de escalas e contextos produtivos, uma central termoeléctrica de 10 MW em Portugal que queima biomassa, utiliza, em média, 500 toneladas por dia, o que representa anualmente cerca de 150 mil toneladas. “No Brasil, onde existe uma indústria-base do etanol do sumo, sendo o mais importante o que resulta do processamento da cana-de-açúcar, não temos condições de competir com a tecnologia de biocombustíveis de primeira geração, de igual para igual, dada a pluralidade e potencial instalado dos operadores de mercado”, assinala Lucas Coelho. O administrador da Stex esclarece que, só numa pequena fábrica de processamento de cana-de-açúcar, no Brasil, é utilizado, em média, por ano, um milhão de toneladas dessa matéria-prima, quando o normal são 4, 5, 10 milhões”. Acresce que, do outro lado do Atlântico, isso funciona numa outra lógica, dado que essas unidades de produção laboram, simultaneamente, como fábricas de açúcar e destilarias de álcool. Em Portugal, há o predomínio do biodiesel – um biocombustível de primeira geração obtido a partir de óleos vegetais e alimentares – já com uma série de empresas dedicadas à respectiva produção. “Ora, sucede que, em todo o contexto mundial, o processo de cultivo e produção destas matérias-primas não é 100% sustentável. Ou seja, os combustíveis de primeira geração são bons, mas terão de ser melhorados considerando, ainda, a sua competição com a produção de alimentos. Dito isto, com o novo enquadramento legal europeu, abre-se um campo de oportunidade para a afirmação de projectos como o nosso”, sublinha Lucas Coelho, frisando que “os nossos projectos de biorrefinarias conseguem produzir entre 90 e 220 litros de bioetanol por tonelada de biomassa de resíduos. Do qual, o Cliente é normalmente o investidor, que está à procura de valorizar a biomassa que a sua actividade industrial produz. Estamos muito perto de concretizar o objectivo de construir uma biorrefinaria, seja de um Cliente ou própria, com um conjunto de parceiros interessados em investir. Este é um tipo de projecto com custos de investimento entre três e 10 milhões de euros; e que terá, por definição, um retorno dentro de três a cinco anos. Pronta a afirmar-se no bioetanol combustível, a Stex tem capacidade para trabalhar diferentes fontes de biomassa.

E o desafio da tecnologia do combustível avançado é, em bom português do Brasil, como fazer pequeno e rentável? Com esse drive, com essa orientação, a empresa desenvolveu um modelo competitivo, que assenta numa biorrefinaria diversificada e colocada em vários pontos do País. Neste cenário de produção de biocombustível a partir de biomassas residuais, a empresa tem noção precisa das latitudes. “Sem dúvida que, quando falamos de uma biomassa de resíduo florestal, ou até mesmo de um resíduo agrícola, estamos perante uma oportunidade, com uma margem de crescimento interessante. Mas, se pensarmos nos resíduos sólidos urbanos, as perspectivas ganham, naturalmente, outra dimensão”. Estima-se que, em Portugal, 50% do lixo que chega às empresas de resíduos sólidos urbanos tenha, ainda, por destino final o aterro. Acontece que a tecnologia desenvolvida pela Stex permite produzir bioetanol a partir destes resíduos, além de composto e biometano, um processo, inclusivamente, em desenvolvimento integral com o LNEG. O que, para a dupla de administradores da empresa, constitui uma motivação acrescida, ao posicionarem-se como “solução para um enorme problema ambiental e social”.

Até 2025, todos os países europeus vão ter de utilizar um quarto contentor, este de cor castanha (Lisboa e Oeiras estão entre os concelhos pioneiros já a utilizá-los), para as pessoas aí colocarem as comidas/resíduos alimentares. “Se nós já conseguimos fazer bioetanol do lixo indiferenciado, imaginem o que não faremos com os resíduos alimentares? E com uma vantagem competitiva muito relevante: o seu maior rendimento por tonelada de resíduo”. O administrador da Stex define o tratamento do lixo como um problema alfa. Existem algumas alternativas nesse domínio: aterro, incineração e biodigestão anaeróbia para produzir gás. “Mas a nossa opção é, comprovadamente, a mais rentável”. Pensando nos veículos automóveis, o bioetanol misturado na gasolina até 20-25% não altera o motor, sendo que a mistura de 10% já é utilizada em várias partes da Europa. E essa infra-estrutura já está pronta. “Se eu que quiser apostar noutra fonte, hidrogénio, gás, etc… tenho de montar uma infra-estrutura que neste momento não existe. Só em Portugal, 99% dos veículos são movidos a energia líquida: seja gasolina, seja gasóleo, seja biodiesel. Portanto, nessa transição para uma sociedade neutra em carbono em 2050, os combustíveis líquidos são claramente uma resposta no curto prazo e complementar no médio e longo prazo”. E essa cultura já chegou à Europa há bastante tempo. São vários os distribuidores de combustíveis que já misturam bioetanol na gasolina inclusive em Portugal. É caso para dizer, ou melhor, desejar a Lucas Coelho e a Eduardo Diebold, que, logo, logo, arranque no nosso país a primeira biorrefinaria própria da Stex. Vamos nessa.