1 de Abril 2021

Inovação no tronco de um futuro em flor

A Mushi está a mudar-se da margem Sul do Tejo para uma quinta no litoral alentejano. Mudança, em nome do potencial inimaginável dos cogumelos shiitake, não apenas no ramo alimentar, mas como matéria-prima para produtos ecológicos e sustentáveis. Porque o mundo procura e valoriza, a um ritmo imparável, materiais eco e ético-conscientes, dando sentido pleno à palavra sustentabilidade. E quando assim acontece, é uma honra distinguir quem faz por isso – pelo presente e, acima de tudo, pelo futuro. Palavras que justificam a atribuição da Menção Honrosa “Jovem Empresário Rural” no Prémio Empreendedorismo e Inovação CA 2020

Há um verso de Drummond de Andrade que diz assim: “O mais é barro, sem esperança de escultura.” Fora de contexto, a afirmação parece derradeira, derrotista, definitiva – mas não é, de todo em todo, se lermos o poema inteiro. Seja como for, as palavras do génio eterno de Itabira mexem connosco. Levam-nos a pensar que, nestes tempos em que o futuro é tão urgente, a esperança emerge como sinal de um mundo possível, tenhamos nós, humanos, a sabedoria de abraçar valores tão simples como a nossa ligação e respeito pela natureza. “

A consciência ecológica fez, desde sempre, parte da nossa própria forma de estar na vida. No nosso dia-a-dia, damos prioridade ao consumo de produtos locais e sustentáveis, procuramos reduzir ao máximo a produção de lixo e temos, sempre que possível, a reutilização de produtos e materiais como prioridade”, palavras na confissão partilhada de Raquel Antunes e João Santos, a cara e a alma da Mushi, “embora o projecto viva da dedicação de toda a família”, fazem questão de sublinhar. A Raquel é licenciada em Biologia, pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e doutorada em Biologia, pela Universidade Nova de Lisboa/ITQB; fez investigação científica durante sete anos, seis dos quais no Instituto Gulbenkian de Ciência; foi examinadora de patentes de Biotecnologia e agente oficial no Instituto Nacional de Propriedade Industrial; em 2015, trocou o escritório por uma estufa e, com o apoio do “companheiro de vida e de sonhos”, o João, criou a marca Mushi.

As três letras CEO conferem-lhe a responsabilidade da função de quem lidera e tem a última palavra, mas a Raquel nunca por nunca abdica do que mais prazer lhe dá: “criar e cuidar da produção de cogumelos, e desenvolver biomateriais em laboratório”. Ao seu lado, tem o João, licenciado em Finanças, pelo ISCTE; foi consultor de estudos de mercado na GfK Portugal e, em 2012, lançou-se como empresário de horto-frutícolas, chegando a ter a seu cargo 11 lojas da cadeia Mercadito, nos concelhos de Almada e do Seixal; colabora, desde o início, com o projeto Mushi como advisor financeiro e de marketing, funções que acumula com o que realmente mais gosta de fazer: “a produção de cogumelos em troncos, principalmente as actividades que requerem trabalho ao ar livre”. Numa primeira fase, avançaram para a implantação da estufa e a optimização da produção de cogumelos em troncos. E o lançamento da Mushi no mercado aconteceu com os mini-troncos prontos a produzir cogumelos. A partir do conceito grow your own, os mini-troncos têm, desde 2015, sido o seu produto de referência, já representado no mercado nacional e europeu através de venda na loja online da marca e em diversas plataformas.

Os produtos Mushi podem ser encontrados em espaços marketplace que concentram marcas com selo de sustentabilidade na União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Em termos de parcerias de desenvolvimento do seu portefólio além-fronteiras, a Mushi está a afirmar-se em Itália e no Reino Unido. Esta dupla de mentes brilhantes – não tenhamos medo das palavras quando a verdade e a competência se impõem com firmeza e à claridade – vive o futuro presente (a ordem dos tempos é, neste caso, arbitrária) com o bichinho carpinteiro de estar sempre a fazer acontecer e a inovar e a surpreender. Quem diria que a Mushi iniciou, entretanto, o lançamento de uma inovadora linha de produtos à base de cogumelos, envolvendo, no começo, malas e acessórios em pele de cogumelo, uma alternativa vegan e ecológica ao couro?... “Para conseguirmos, neste momento, obter pele no volume pretendido, dependemos de produção externa, mas está em curso o desenvolvimento de um processo usando capacidade produtiva própria e recursos nacionais. Embora a actual situação inerente à pandemia nos tenha levado a optar por desacelerar a estratégia de marketing até que o mercado esteja mais estável, a nova linha de produtos encontra-se já disponível em diversos canais de venda”, revela-nos, sempre de olhos fixos e vivos, a CEO da Mushi. Neste contexto específico, a marca procura agora “estabelecer e reforçar parcerias preferencialmente direccionadas à moda sustentável”.

Ainda em fase embrionária de I&D está um “bio-material obtido a partir de micélio [os filamentos] de cogumelo em substrato de cortiça, com vista à criação de uma linha de produtos de homeware e decoração”, acrescenta a Raquel, explicando que esse bio-material à base de micélio de cogumelos é cultivado em celulósico, uma matéria-prima ecológica 100% biodegradável, alternativa ao plástico ou à cerâmica convencional. “Pretende-se a combinação de micélio de cogumelo com desperdícios da indústria da cortiça, uma forma de valorizar e revitalizar os recursos endógenos da região alentejana, procurando posicionar a marca Mushi no crescente e promissor mercado dos biomateriais e do biodesign. Dada a rápida taxa de crescimento do micélio, este biomaterial constitui uma alternativa significativamente mais sustentável e eficiente em termos de produção – em contraponto às opções produtivas tradicionais dependentes de combustíveis fósseis – com menor consumo de água, menor pegada de carbono e compatível com a economia circular” – que veio para ficar, desejamos nós. A quem ainda não conhece a Mushi e o seu compromisso com a sustentabilidade, a Raquel e João fazem questão de dizer: “Nature is not a place to visit. It is home.” Nem é preciso traduzir. Basta interiorizar. E respeitar a Natureza como se fosse – porque, de facto, é – a nossa casa.

*Os mini-troncos prontos a produzir cogumelo shiitake em casa têm sido o produto-estrela da Mushi, uma alternativa 100% natural, “com maior durabilidade e estética que as caixas com substrato artificial existentes no mercado, e maior qualidade e sabor que os desidratados. Saudáveis, divertidos e fáceis de usar, são perfeitos para os novos agricultores urbanos amantes da slow food e para os apaixonados pela magia da natureza e fãs de ecogadgets”