11 de Julho 2018

Vivamente conquistador

Estudou design industrial e hoje trabalha como ecodesigner, palavra que não lhe é muito cara. A dimensão ‘eco’, em seu entender, peca por exagero, não fosse desde logo a ecologia um dos pressupostos, um dos mandamentos do design, seja qual for a declinação. No seu caso, há quinze anos que se tem dedicado a produzir as melhores hortas de que é capaz, “num compromisso necessariamente ecológico e, melhor ainda, eco-consciente; a estética só vem embelezar o processo…”. João Afonso Henriques é o mentor do projecto Biovivos, distinguido com o Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola 2017, na categoria Hortofruticultura.

Concretizando, a Biovivos produz e comercializa três variedades de plantas comestíveis – erva de trigo, flor de ervilha e girassol – que se destacam das demais por serem altamente nutritivas. Estas plantas são vendidas vivas, o que potencia a qualidade dos nutrientes até ao momento do consumo. A produção, actualmente, acontece em cinco estufas, duas grandes instaladas em Carnaxide e três mais pequenas em Montachique, a poucos minutos de Lisboa.

Já ultrapassámos a fasquia das dez mil saladas por mês. O que significa que, em termos reais, estamos a crescer e, além disso, a gerar empregos directos e indirectos.

Em bom rigor, trata-se de micro-estufas urbanas, servidas de painéis solares e com baixo consumo de água, sublinhando a sustentabilidade destas plantas biológicas. O projecto Biovivos é exemplar a vários níveis, particularmente por nos mostrar que nem só de tecnologia vive o empreendedorismo e a inovação. Recuperando o tópico do ecodesign e transpondo a análise para o contexto agrícola, João Afonso Henriques defende que “o propósito é produzir, não ter a estufa mais bonita ou um sistema de cultivo super avançado e controlado, em que as plantas ‘falam’ connosco no telemóvel… O que eu trouxe, enquanto designer, para o mundo agrícola (especialmente urbano) foi a simplificação de processos para o utilizador. E no modelo industrial seguido pelo Biovivos, o que nos propomos é tornar simples, fácil e rápido o retorno do investimento”. Estamos esclarecidos. E mais ainda quando ouvimos falar em números concretos, que conferem todo o sentido ao projecto. 

“Já ultrapassámos a fasquia das dez mil saladas por mês. O que significa que, em termos reais, estamos a crescer e, além disso, a gerar empregos directos e indirectos. Mais ainda: é com muito orgulho que atingimos o break-even operacional, sem qualquer recurso a financiamento, ao fim do sexto mês, e o retorno do investimento ao fim do primeiro ano. Mas, vejamos, nada disto se consegue sem uma entrega e uma disponibilidade totais. Meses há em que chego a contabilizar cerca de 468 horas de trabalho (!) – e sem nunca perder o sorriso…”. É verdade. Um sorriso franco e inteiro, com uma energia transbordante e contagiante. Provavelmente, essa é a pedra de toque do projecto Biovivos. Parece não haver nada, por maior obstáculo ou contrariedade, que refreie o ímpeto de João Afonso Henriques em abrir caminho e seguir frente com as suas ideias. E como se isso não bastasse, ainda se confessa “muito grato por poder dedicar-me exclusivamente a este trabalho desde 2014”. Com uma tese em hidroponia na região Oeste, fez uma viagem ao Senegal que mudou por completo a sua vida – de tal maneira, que até pensou em produzir alfaces no deserto do Saara…

 No âmbito desta relação design-agricultura, o jovem empreendedor já realizou mil e uma experiências, desde telhados verdes a jardins verticais. E depois de tantas ideias e alguns investimentos, a estrela brilhante acabaria por iluminar a Biovivos. “Após testar cerca de 60 variedades de plantas, estas três revelaram-se insuperáveis em termos de concentração de nutrientes. O nosso trabalho deve ser visto não apenas numa vertente agrícola, mas numa dimensão que eu diria agrofarmacêutica, dentro dos parâmetros da economia circular e em claro contraponto com a realidade agroquímica”. Restaurantes, lojas de produtos naturais e clientes directos constituem o universo de destinatários da Biovivos, sendo de destacar, em larga medida, as pessoas com estilos de vida saudável ou que, por razões médicas, têm especiais cuidados alimentares. Entretanto, a cada dia que passa, das estufas da Biovivos saem 500 vasos destes super-alimentos, principalmente erva de trigo, embora os números reportados à flor de ervilha e ao girassol estejam a crescer. Chegados ao destino final, os biovivos são lavados, transformados em sumo e… já está.

“Cada sumo, é um concentrado de saúde”. Palavra de João Afonso Henriques. Nesta conversa, numa das suas palestras habituais ou em www. biovivos.pt.