9 de Abril 2018

O Mundo a seus pés

Ainda Portugal não tinha adoptado o conceito de empreendedorismo, já António Ferreira Pereira se destacava como empreendedor, a exemplo de outros portugueses que, por diferentes razões e motivações, assumiram o risco de tentar ser bem-sucedidos. Com uma experiência no sector do calçado que vem de menino e moço, o administrador da Arlitó tem mundo – faz questão de lembrar a sua experiência nas minas de carvão de Ponferrada, na Galiza – e uma memória prodigiosa onde vai buscar aqueles ensinamentos que ficam para sempre e lhe dizem como relativizar as coisas mais irrelevantes da existência e como valorizar o que realmente importa: as relações humanas feitas no molde da lealdade, da franqueza e da partilha dos bons valores da vida. Há trinta e oito anos, o negócio arrancou com um investimento inicial de cinco mil escudos (hoje, 25 euros…). Foi o bastante para fazer a roda dos sonhos girar, lado a lado com dois Colaboradores que sabiam fazer, do princípio ao fim, um par de botas ou sapatos, assumindo António Ferreira Pereria a tarefa do corte – a sua especialidade. Os primeiros tempos centraram-se no fabrico de dois modelos para fornecimento de um distribuidor exclusivo de Guimarães, numa experiência que se revelaria importante para consolidar competências e ganhar notoriedade.

Quatro décadas depois, a Arlitó é hoje uma referência destacada na fileira do calçado, com um volume de facturação que supera já os 14 milhões de euros e um universo de Colaboradores quase a chegar aos 250. “Aqui, na unidade de Torrados [Felgueiras], temos 170 pessoas a trabalhar, distribuídas pelas áreas de modelação, corte, pré-costura, costura, fabrico e acabamento. E desde 2015 passámos a dispor de uma fábrica de apoio em Cinfães, presentemente com 66 profissionais ao serviço, sendo que o nosso compromisso inicial com o Presidente da Câmara foi garantir a oferta de 15 postos de trabalho”. 

Essa diferença diz tudo em relação ao que tem sido o desempenho da Arlitó, reflectindo uma estratégia de sucesso claramente apontada ao crescimento permanente, mas sustentado, e não abdicando nunca daquilo que sempre fez a diferença. “Um produto de qualidade inatacável, capaz de fidelizar as marcas de calçado mais exigentes do mundo”, assinala Bruno Pereira, filho de António, que tem a responsabilidade do marketing e da área comercial. A propósito de marcas de topo, se referências, se credenciais fossem precisas para atestar a excelência do trabalho da Arlitó, bastaria dizer que entre os seus Clientes se contam, por exemplo, a Kenzo, a Camel, a Marco Polo, a Pal Zireli, a Jack & Jones, a Tommy Hilfiger, a Gant… e por aí adiante.

No portefólio da empresa, não faltam histórias marcantes e episódios relevantes. É o caso daquela ‘super bota’ [ver foto, em cima] fabricada propositadamente para uma campanha publicitária da Rockport, que, em tempos, fez sucesso nos pés de uma estrela maior da NBA. Quando assim acontece, Portugal sabe bem o terreno que pisa. Terreno fértil para a afirmação da sua competitividade.